terça-feira, 17 de março de 2009

COMO A GLÊ MORAIS APARECEU PARA MIM

(POR CRIS FAGÁ)

Para saber quem somos, basta dizer que trabalhávamos juntas na mesma empresa em 1997. E eu – pasmem!!! - não tinha afinidade com ela. Ela trabalhava com a Beth. E a Beth gostava dela. E a Beth não gostava de mim. E eu não gostava da Beth. Então, qualquer coisa – e nesse caso, pessoa – próxima da Beth, para mim era sinal de risco.

Embora ela estivesse sempre ali, embora nos víssemos todos os dias e aos sábados e domingos trabalhássemos juntas no plantão de vendas, a Gleide só entrou na minha vida no dia 15 de maio de 1998. Meu pai havia morrido no dia 12, e quando voltei para o trabalho, ela mandou pelo boy um bilhete para mim (que eu procurei horrores nas minhas caixas, diários, tudo e não o encontrei). Sei que ele está em algum lugar, porque a gente vive se esbarrando. Mas justo hoje, que eu queria encontrar, o danado se escondeu de mim. O tal do bilhete dizia exatamente, não o que eu estava sentindo, nem uma mensagem de pêsames. Mas falava exatamente do que eu precisava saber naquele momento só meu.

A morte é assim, sempre assim. Ela leva uma parte da gente, mas sempre traz algo em troca. A morte levou meu pai. No lugar dele, deixou a Gleide.

Desse dia em diante, começamos a trocar bilhetes, porque – pasmem vocês, de novo – não tínhamos e-mails, internet, nada. Dá para imaginar um mundo assim, sem blog, sem youtube, sem e-mail, sem ipod? Eu não consigo!!! E olha que até já fiz parte dele.

Quando saí da empresa, continuamos a manter contato. Um telefonema ali, um encontro aqui, uma carta de vez em quando (eu ainda tenho a carta que ela escreveu para mim. Está perdida em algum lugar, provavelmente junto com o danado do bilhete). Uma vez até passamos o ano novo juntas na praia.

Sei que quando inventaram a internet – ou quando tivemos acesso à ela – nos conectamos.

E estamos juntas aqui. Quase não nos vemos, é verdade. Pouco nos falamos. Mas nos lemos sempre. E nos ajudamos. Primeiro foi pelo fotolog. Pelo meu e pelo dela – que deletamos. Um dia a gente conta a história. Depois pelos blogs. Depois por e-mails, depois nem sei mais como.

Sou tão mais porque ela me lê. E eu sinto que ela é tão mais também.
Ela me entende, me partilha, me divide e me completa.

E, para vocês entenderem o nosso universo particular é que decidimos partilhar, dividir-nos com vocês também.

(Ah.. e só para constar. Um dia, bem mais tarde, descobri que a Beth até gostava um pouco de mim. E descobri que eu até gostava um pouco dela também. E descobri que ela nem era tanto risco assim... )

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